29 setembro, 2016



Livro:  'Salem (A hora do Vampiro)
Autor: Stephen King
N° de páginas: 386
Editora: Objetiva LTDA


    "O mais estranho é que nenhum dos que vigiavam a noite em Jerusalem's Lot sabia a verdade. Alguns suspeitavam, mas essas suspeitas eram vagas e informes como fetos. Mesmo assim, não hesitavam em abrir as gavetas das cômodas ou os porta-joias em busca de quaisquer símbolos religiosos ou talismãs. Fizeram tudo sem pensar, como um homem dirigindo por uma longa estrada começa a cantar. Andavam lentamente de um cômodo a outro, como se tivessem frágeis corpos de vidro, acendendo as luzes, sem olhar pelas janelas.
    Acima de tudo sem olhar pelas janelas.
    Por terríveis que fossem os ruídos e as possibilidades, por pior que fosse o desconhecido, havia algo ainda pior: olhar a Górgona no rosto."


Como disse na resenha que fiz do primeiro livro da trilogia "Millennium", eu não costumo pesquisar sobre os livros que vou ler. Não sei direito o motivo, mas não gosto de pular etapas (é raro eu bisbilhotar as últimas páginas dos livros). E o mesmo aconteceu com esse, não pesquisei sobre e nem sabia que seu nome em português já fora publicado como "A hora do vampiro" (somente depois, pesquisando sobre o livro, soube). Por isso, iniciei a leitura pensando ser um livro sobre bruxas, porque relacionei "Salem" às "Bruxas de Salém". Imagine minha surpresa então, quando havia vampiros aparecendo em janelas everywhere e dizendo "deixe-me entrar"! Este é o quarto livro de King que leio, e ele ainda não me decepcionou. 

'Salem's Lot, ou em sua versão brasileira "Salem", é um livro que conta a história de Ben Mears, um escritor, relativamente bem sucedido, que, depois da morte de sua esposa, decide retornar à cidade em que passou parte da infância para exorcizar alguns demônios interiores que lhe rondavam a mente mesmo 24 anos depois.
Percebo, tendo como base essas leituras do autor, que seus livros começam assumindo o compromisso de nos dar um panorama dos personagens: nomes, características físicas, emocionais, um pouco da sua história, fatos específicos que demonstram alguma relevância para compreendermos sua personalidade e até mesmo alguma atitude que venha tomar durante o desenrolar da história. Por isso, percebi que a ação do livro começa quase no meio do livro, quando o autor já construiu os personagens, há um acontecimento que dá início à ação e ele começa a desenrolar as hipóteses. A partir daí os personagens precisam estar muito ativos, porque começa uma sucessão de fatos que os empurra adiante.
A história começa com um narrador onisciente e os personagens apresentados são um menino e um homem alto que fugiram juntos pelos EUA em direção à fronteira com o México e que se encontram num caos emocional. O menino dá sinais de estar traumatizado devido a algum acontecimento e o homem é quem cuida dele.

O homem comprava todos os dias o jornal da cidade de Portland, algo lá não ia bem e, de alguma forma, eles sabiam o motivo, eles precisam voltar.

O autor volta no tempo e nos conta o que aconteceu. Ben Mears volta à Jerusalém's Lot, uma cidade pequena, do tipo em que você continua sendo forasteiro mesmo depois de vinte anos morando nela. Ele chega e conforme dirige, reconhece a estrada, as construções. Esperava que as coisas estivessem diferentes, que a casa Marsten nem existisse mais. Mas ela está lá, elevada sobre o morro e ele passa por ela. Quando ele era criança, já existiam histórias assombradas ao redor dela, histórias que a cidade não deixava morrer. Ele decidiu não entrar naquele momento, mal sabia que quando entrasse...
Ele conhece Susan Norton no parque, ela está lendo um livro escrito por ele, ele puxa assunto e a conversa acontece fácil. Ela se torna importante para ele e ele para ela.
A casa Marsten paira sobre a cidade mais misteriosa do que nunca agora que foi comprada 
Conhece o professor de inglês Matt Burke através do bêbado da cidade e conhece o médico Jimmy Cody através de Matt e conhece o perspicaz menino, Mark Petrie, através de Susan.
Os cinco se seguram uns aos outros em busca de manter a sanidade enquanto ficam encarregados de vencer um gênio milenar, capaz de antecipar suas ações, e conter a infestação de seus súditos que aumenta a cada noite.É incrível a forma como parece haver na cidade um inconsciente coletivo em que todos sabem que algo vai mal, mas não sabem ou não querem saber o que é. Ao mesmo tempo que seu instinto, a sensação pura que não foi beijada pela lógica, dentro de cada um, apita loucamente insistindo que um horror iminente se aproxima, as pessoas insistem em não acreditar, pois seria impossível. É nesse ponto que o autor elogia a coragem e criatividade das crianças, devido ao fato de possuírem preocupações muito mais aterrorizantes e permanecerem sãs, enquanto muitos adultos, que se gabam da lógica de seu pensamento e seriedade, se afundam no primeiro problema, procurando formas de fugir da realidade. 

"Antes de mergulhar no sono, ele refletiu — não pela primeira vez — sobre como os adultos eram curiosos. Tomavam álcool, laxantes ou soníferos para espantar os medos e conseguir dormir, mas eram medos mansos e domésticos: trabalho, dinheiro, o que a professora vai pensar se eu não vestir Jennie melhor, será que minha mulher ainda me ama, quem são meus verdadeiros amigos. Eram suaves comparados aos medos que toda criança enfrenta a cada noite na escuridão do quarto, sem esperar que ninguém a entenda a não ser outra criança. Não existe terapia em grupo, nem psiquiatra, nem assistente social para a criança que tem de lidar com a coisa debaixo da cama ou dentro do porão todas as noites, a coisa que a ameaça e provoca além do limite da visão. A mesma batalha é travada noite após noite, e a única cura é a eventual ossificação da imaginação, que também se chama idade adulta."

King sempre cria um espaço de honra para as crianças em suas obras. Ele nunca as subestima. Em seus livros as crianças são descritas como criativas, corajosas e inteligentes. Ele se importa em mostrar que por mais que pareça que elas não prestam atenção ao que falamos, elas prestam e conseguem usar isso para resolver grandes problemas que deixariam adultos perdidos. Um exemplo disso, neste livro foi quando Mark precisou resistir ao poder hipnótico de seu visitante noturno. Abrir a janela significaria morrer. Outro exemplo é quando ele se vê sozinho e precisa dirigir um carro pela primeira vez, ele se lembra dos conselhos do pai e, aos trancos e barrancos consegue chegar onde precisa. Em "A garota que adorava Tom Gordon", não é diferente, quando se vê sozinha na floresta, Trisha precisa usar tudo que sabe para prolongar sua saúde na espera por socorro. Um exemplo de que ela é mais profundidade do que atribuem às crianças foi o motivo pelo qual ela se perdeu: não suportava mais as brigas entre o irmão e a mãe, e compreendia perfeitamente os motivos de cada um.
Cada livro que leio dele me faz gostar mais do autor e da pessoa do Stephen King.












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