03 janeiro, 2016

Livro: A Mulher de Trinta Anos (La Femme de Trent Ans)


Autor: Honoré de Balzac
Páginas: 158
Editora: Nova Cultura
Tradução: Gisele Donat Soares


Nesse romance Honoré Balzac mostra sua sensibilidade em relação aos sentimentos e lógica femininos (principalmente os de sua época, mas no geral, alguns permaneceram até nossos dias) que de uma forma que traduziram várias vezes o que eu, como mulher sinto em "n" ocasiões da vida. 
"O coração também tem sua memória. Há mulheres incapazes de se lembrar dos mais graves acontecimentos, e que se recordarão durante toda sua vida de fatos que dizem respeito a seus sentimentos." P. 53.
A história se passa no século XVIII, na época em que Napoleão conquistava para a França inúmeras vitórias. Acompanhamos pelos olhos do autor a vida de Júlia (ou Julie, no original francês), desde sua juventude, e a preocupação de seu pai por sua felicidade. A percebemos então como alguém de alma extremamente gentil, porém mimada e obstinada em sua escolhas e decisões. Contra a vontade e previsões de seu pai, casou com Vítor, coronel do exército de Napoleão, um homem de aparência extremamente agradável porém com modos que, temia seu pai, poderiam ferir a alma alegre e pura de Júlia.
"Mas poderá pintar-se, poderá cantar-se? Não, a natureza das dores a que dá origem, recusa-se à análise e às cores da arte. De resto, esses sofrimentos nunca se confiam. Para se consolar uma mulher é necessário saber adivinhá-los; porque, sempre amarga e religiosamente sentidos, permanecem na alma, como uma avalanche que, precipitando-se sobre uma encosta, esmaga o que encontra até achar um lugar." P.65.
Em sua vida adulta, ela se vê tendo que lidar com o dilema entre seus sentimentos e de sinceridade consigo mesma e deveres de esposa. Melancólica e abatida, é assim que a moça passa a maior parte de sua vida, conhecendo pessoas amadas e as perdendo. O mais bonito da personagem é a necessidade de ser sincera consigo mesma e a fidelidade ao que considera certo. Como todas as pessoas, nem sempre seus julgamentos são os melhores (no sentido de ser aquilo que a fará feliz) mas sua saga de amadurecimento nos captura a atenção, pois, nós somos também aprendizes nessa vida.
"– Amo – dizia desta vez Carlos de Vandenesse esse ao deixar a marquesa –, e para minha desgraça, encontro uma mulher presa a recordações. A luta é difícil contra um morto, que não se acha presente para fazer tolices, que nunca desagrada, e de quem apenas se vêem as boas qualidades. Não será querer destronar a perfeição, tentar matar os encantos da memória e as esperanças que sobrevivem a um amante perdido, precisamente porque só despertou desejos, tudo o que o amor tem de mais belo, de mais sedutor?" P.90.
O autor tem reflexões muito relevantes sobre a vida, as relações interpessoais e os sentimentos humanos e, justamente essas reflexões tornam o livro tão especial. Balzac, há dois séculos, põe em palavras o que dentro de nós são ainda apenas sentimentos confusos. 

"Existem pensamentos a que obedecemos sem conhecê-los: estão em nós sem o sabermos. Ainda que esta reflexão possa parecer mais paradoxal do que verdadeira, qualquer pessoa de boa fé encontrará na sua vida mil provas de seu apoio." P. 84.












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2 comentários:

  1. Oi, Rebecca!

    Já ouvi muito sobre Balzac, mas nunca peguei um livro dele para ler. No momento estou em uma "saga pela imersão nos clássicos" e tenho interesse em colocar algo dele na minha lista, quem sabe não esse? Acho que precisamos difundir mais histórias onde a jornada da heroína não é em busca apenas do amor, mas que reflita crescimento pessoal e amadurecimento também. Me lembrou um pouco o que a scarlett, em e o vento levou, passa e me deixou curiosa!

    bjs

    www.queriaestarlendo.com.br

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    Respostas
    1. Com certeza precisamos explorar mais exemplos da mulher como um fim nela mesma, afinal, não vivemos apenas para encontrar alguém, somos um universo bem complexo.
      Que bom que a resenha te ajudou! ^^

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